Primeira conversa de Twitter leiloada no mundo: minha palestra no #FMDS2010

 

 Internet e Criatividade: 2 coisas que são 1 negócio.

Vou contar rapidamente como foi minha palestra no Fórum de Mídias Digitais e Sociais, nesta edição de 2010. O título foi Internet e Criatividade: 2 coisas que são 1 negócio.

Só para adiantar para você, caso não queira ler esse artigo integralmente, coloquei um urinol no palco, em referência à obra Fonte, de Marcel Duchamp, e no final leiloei um quadro com uma troca de tweets entre este que vos escreve e o então governador do Estado do Paraná, Roberto Requião por R$ 150. O valor arrecadado foi doado à Wikipedia.

Tudo isso para ilustrar com mais veemência minhas ideias.

Por alguma razão, talvez porque o evento acontecia na sede da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), eu imaginei que, de alguma maneira eu deveria falar de negócios.

Mas, enquanto eu preparava minha palestra os negócios foram tomando outro rumo.

Considerei que a maior parte dos palestrantes iriam falar sobre temas técnicos: design, SEO (melhorias para mecanismos de busca em sites), mercado publicitário e muitos outros. E, claro, com grande apelo ao público e com grande competência.

Por outro lado, eu não me considero um especialista em qualquer uma dessas técnicas, embora domine algumas suficientemente para satisfazer minhas necessidades de blogueiro. Decidi falar, então sobre o que está por trás das técnicas ou, por outro viés, a frente delas.

Iniciei explicando que mais do que nunca percebeu-se que a internet não é uma rede de computadores, mas de pessoas. Só a utilizamos porque ainda não encontramos meio mais inteligente de reunir essas pessoas e suas ideias com tamanha eficiência.

Retirando-se software e hardware, restam elas, as pessoas: curiosas, criativas e sociáveis. Retire-se a técnica, resta a criatividade. A técnica é o instrumento para que a criatividade se manifeste. Exemplifiquei com Pablo Picasso que aos 12 anos dominava as técnicas da pintura e do desenho e aos 26 fundava o Cubismo, transgredindo as técnicas e regras antigas que o levaram até ali.

Li a seguir um trecho do livro A Alma Imoral, de Nilton Bonder para fundamentar o meu ponto.

Mostrei uma tirinha de Os Malvados para prosseguir:

Nisso, colei uma etiqueta com a tag #internet no urinol que, a esta altura, já estava no meio do palco sobre uma mesa. Expliquei que não havia nada demais nisso já que a criatividade precisa de terrenos férteis para florecer e, finalmente, todos sabem o que é necessário para bem fertilizar um terreno. Além disso, a grande quantidade de conteúdo da internet acaba por lembrar a sopa primordial repleta de aminoácidos que fez florescer a vida, segundo os biólogos.

Ao mesmo tempo alguém distribuiu papel e caneta para que a plateia também participasse com suas tags. Infelizmente não vou conseguir lembrar de todas, mas surgiram algumas bem interessantes.

Continuei a falar dos conceitos ligados à criatividade, desta vez a partir do livro Desvendando os Quadrinhos, de Scott McCloud, que nos apresenta a arte – que pode ser aplicada em maior ou menor grau a qualquer atividade humana -, como um fruto composto de seis camadas. Mostrei como as mais superficiais seriam correspondentes à técnica e as mais internas à criatividade. 

Não deixei de novamente ressaltar que a técnica é necessária em diferentes níveis a fim de que seja possível expressar a criatividade. Por outro lado, muita técnica sem criatividade resulta em um fruto oco, feito só de casca.

 

A seguir, resgatei a figura do troll como um representante da união quase absoluta entre criatividade e transgressão. Refiro-me, claro, ao troll da internet, que habitualmente é ligado ao anonimato, ofensas e a todo tipo de acontecimento desagradável online.

Então mostrei alguns exemplos de trolls que demonstram que, cada vez mais, o troll não é mais anônimo ou mesmo indesejável. No entanto, ele é sempre desestabilizador em maior ou menor grau.

Exemplifiquei como o conceito de troll, de alguma maneira, é anterior à internet e como as ideias se repetem, muitas vezes com outro nome.

Veja a troll face:

Agora veja a máscara de Arlequim, personagem da Commedia Dell’arte, gênero teatral que usava as máscaras para designar determinados personagens que, por sua vez, representavam determinados estados de espírito. O Arlequim, no caso, representava um estado de espírito muito similar àquele da pessoa que, por alguma razão, encarna o papel do troll em suas redes sociais da internet:

Finalmente, contextualizei a referência à Fonte, de Marcel Duchamp, feita através do mictório presente no palco e que, desde o início, provocava a curiosidade de alguns e o asco e/ou divertimento em outros. Expliquei como aquilo foi uma grande trolada nos conceitos artísticos da época e como era necessário que alguém os desestabilizasse. Algo um pouco mais longo do que esse parágrafo.

Na última parte, mostrei meu diálogo no Twitter com o então governador do Paraná, considerado um troll por muitos (no bom e no mau sentido) e, para surpresa de todos, mostrei que havia feito um quadro emoldurado com aquela conversa. Iniciei um leilão que terminou em R$ 150 que, por sua vez foram doados à Wikipedia. Devo dizer que foi muito divertido para todos, inclusive para mim.

Perguntaram-me, ao final, como transgredir a internet. Eu respondi que bastava não perder uma oportunidade quando ela surgisse ou então criar as suas. Minhas palavras teriam sido melhores, no entanto, se eu respondesse com algo parecido com o que está escrito neste post: Certinho. Algo que vale para a internet e para fora dela também.

FONTE:http://livroseafins.com/

PUBLICADO ORIGINALMENTE , EM 07/12/2010