domingo, 6 de fevereiro de 2011

TÉCNICAS QUE DÃO CERTO NA CONSTRUÇÃO DE COMUNIDADES MAIS AMOROSAS COM SEUS DEFICIENTES



MAPs, CÍRCULOS DE AMIGOS E PATHs AJUDANDO NA
 CONSTRUÇÃO DA INCLUSÃO

                                                                                     Gladis Maia

“Pelo modelo social da deficiência, os problemas da pessoa com necessidades especiais não estão nela tanto quanto estão na sociedade. [...] no desempenho de papéis sociais em    virtude de: seus ambientes restritivos; suas políticas discriminatórias e suas atitudes preconceituosas que rejeitam a minoria e todas as formas de diferenças; seus discutíveis padrões de normalidade; seus objetos e outros bens inacessíveis do ponto de vista físico; seus pré-requisitos atingíveis apenas pela maioria aparentemente homogênea; sua quase total desinformação sobre necessidades especiais e sobre direitos das pessoas que tem essas necessidades; suas práticas discriminatórias em muitos setores da atividade humana”. (Romeu Kazumi Sassaki, in Inclusão – construindo uma  sociedade para todos.)


                                                                   
          A Educação Inclusiva não surgiu ao acaso. É fruto de uma luta que explodiu no afazer das  escolas do mundo todo. Realidade educacional contemporânea mundial - produto histórico da luta de uma época - e exige de nós o abandono de muitos estereótipos e preconceitos.

         A Inclusão derruba o  princípio clássico da normalização. Não são mais os deficientes que têm  que se adaptar aos normais, mas os normais que tem que aprender a conviver com os deficientes. E isto não só nas salas de aula, por que é preciso que o deficiente adquira também um lugar na comunidade, tenha amigos e um  trabalho.

         Quanto aos amigos, as pesquisas  vem apontando que tanto para as crianças como para os adultos estabelecerem  elos de amizade   é necessário ter aceso uns aos outros, mais uma razão pelas quais as crianças com Necessidades Educativas Especiais, NEE,  devem freqüentar as escolas da vizinhança de sua residência.

         Mas como nem sempre a proximidade entre as pessoas é suficiente para gerar amizades, vários instrumentos tem sido utilizados com sucesso, neste sentido, nas escolas do século XXI, em muitos lugares,  mais especialmente na América do Norte.

         Entre esses instrumentos  encontramos: os Círculos de Amigos, os MAPs (Formulação de Planos de Ação) e PATHs ( Planejamento de um Futuro Alternativo com Esperança).

         Estes instrumentos  são  centrados na pessoa e presumem que todo mundo deve ser valorizado. Possuem como base a esperança no futuro, supondo que todas as pessoas estarão  inseridas, porque  todos  podem aprender  e se beneficiar de estarem juntos, até porque a  diversidade é uma de nossas potencialidades fundamentais.

            Neste artigo vamos focalizar algumas características do MAP, que pode ser definido como um planejamento cooperativo entre os principais agentes da vida de uma criança: o aluno, a família, seus professores e outras pessoas importantes de sua vida, que reunidas  discutem as prioridades para o dia a dia da criança, seus sonhos e objetivos pessoais e da família e a forma de tornarem-se realidade. Seus resultados podem incrementar o PEI, Plano de Educação Individualizado.

         Para sua realização são necessárias duas funções específicas:  a de anotador e a de facilitador. O anotador  faz o registros, preferentemente usando gráficos, em uma grande folha de papel. O facilitador  recepciona o grupo, explica o processo e aplica o MAP. 

        
São oito os elementos essenciais do MAP

1) co-facilitação (anotador e facilitador  podem trocar suas funções entre si);

2) registro gráfico com canetas coloridas;

 3)  hospitalidade (salgadinhos, bebidas,sinais de agradecimento);

4) conhecimento dos fatores-chave da vida atual e da participação da criança;

5) enfoque na pessoa, em seus irmãos, amigos e parentes;

 6) pergunta fundamental: o que a criança e a família desejam?” ;

 7)  decisão de reunirem-se novamente com data pré-fixada;

8) plano de ação concreto, com coisas reais a serem feitas imediatamente.
        
         No dia do encontro, as cadeiras devem esta dispostas em círculo ou semicírculo e as pessoas identificadas com etiquetas. Os comes e bebes devem estar disponíveis antes do começo da sessão, para gerar uma certa intimidade.

         Após a apresentação informal de cada um, o facilitador solicita que os participantes se apresentem, cada um dizendo  quem é, e qual é o seu papel  na história da pessoa focalizada.
        
         Começam então as perguntas do facilitador. “O que é um MAP? Faz analogias com um mapa e suas utilidades e conclui dizendo que ele é um processo, um instrumento, que pode ajudar a pensar e encontrar o que o aluno “X”  necessita: “Juntos poderemos criar um plano de ação para X ”. “Qual é a história de X ?”


         O facilitador deve ouvir mais do que com seu corpo, com seu coração e sua alma e sugerir aos participantes a mesma coisa. Deve pedir  para que não formulem opiniões, nem  julgamentos a respeito do que um participante esteja expondo. Recomenda  que todos devem tentar  sentir, ao ouvir o que a pessoa está  dizendo,  de dentro para fora – como se fosse a sua própria história.

         “Qual é o sonho?” é a pergunta central do MAP, sua espinha dorsal! Às vezes pode vir embutida na anterior . O facilitador deve criar uma atmosfera na qual os participantes sintam-se à vontade para falar dos seus sonhos, das suas esperanças, dos seus desejos em relação a “X”.  Todos precisam ser ouvidos, especialmente a família de “X”. Sensibilizar os participantes à , na sua hora, dizer  realmente o que quer e sonha ou reza para que se concretize na vida de “X”.

         Os autores do artigo referem que freqüentemente há um silêncio mortal neste momento. Silêncio  que é essencial para o processo, por isso não deve ser interrompido.

          Deve-se dar um tempo para a família criar coragem de expressar seus verdadeiros sentimentos e esperanças. Normalmente coisas significativas ocorrem ao tempo certo, não precisamos apressar o processo. 


         Pesquisas revelam que a  maioria dos pais que participaram desta técnica, disseram que o MAP lhes permitiu sonhar novamente.
          
Qual é o pesadelo de ...?”  As perguntas referentes ao sonho e ao pesadelo recebem respostas apaixonadas. As famílias em geral choram abertamente quando um participante diz: Meu sonho é que meu filho seja feliz, possa ir à escola, vá andando ou de bicicleta para a escola com sua irmã, seja convidado para festas de aniversário, coma um hamburger com um amigo e tenha amigos telefonando para ele.”
          No caso de um adolescente ou adulto, a própria pessoa pode falar. Se for não-verbal, alguém do grupo poderá indicar seu sonho por conhecê-lo bem. O facilitador pode perguntar: Se ‘x’ pudesse falar, qual você acha que seria o seu sonho?” Uma garota de 12 anos expressou assim seu sonho: “Quero viajar para o Hawai e trabalhar com computadores. Também quero um cachorrinho.”

     Como bem colocam os autores, ninguém jamais referiu que o pesadelo pudesse ser: “Tenho medo que meu filho não consiga Um A em Matemática” ou “que não se alfabetize” ou “que não haja um currículo de História” adequado para “X”.

         Uma mulher ao descrever o filho de 18 anos – institucionalizado depois que ficou cego - chorando copiosamente disse: “Nossa família está vivendo um pesadelo, tudo o que queríamos, tudo o que queremos, é um fio de bondade e amizade para o nosso filho.”

         Os facilitadores precisam ser pessoas que acreditem totalmente no fato de que a Inclusão seja possível para todos. Devem ser bons ouvintes, capazes de ouvir expressões de grande sofrimento, sem precipitar-se, dando conselhos ou soluções imediatas.

          O anotador – deve sempre conferir com cada participante se escreveu corretamente o que foi dito - o que cria um clima mais produtivo e evita erros que são inadmissíveis nestes casos. Deve criar esquemas ou resumos sobre o que o grupo diz, através de cores e gráficos. Lê as anotações para a conferência do grupo, antes do próximo passo do MAP. As perguntas de 1 a 4 compõem a primeira parte . Pode-se fazer uma pausa antes da 2ª parte, que é mais suave.

        
          5ª pergunta: “Quem é ‘X’ ?” Deve-se fazer um esboço de uma figura humana num papel e distribuir etiquetas autocolantes para os participantes colocarem na figura. Estabelece-se um debate para tanto.

          Na figura de um menino de 12 anos, por exemplo, colocaram as seguintes expressões: curioso, bonito, determinado, meu irmão, muito ativo, praga, pirralho, algum dia poderá ser um grande amigo de alguém ,um menino interessante, vivo, gosta de tocar seu tambor, grande família. O anotador reúne as palavras formulando uma descrição.

         Às vezes podemos perguntar: “O que outras pessoas disseram sobre ‘X’ no passado? Em outras reuniões? No caso do menino acima, outras pessoas o descreveram como: retardado, atrasado no desenvolvimento, autista, gravemente autista. 

         Pergunta 6 – “O que ‘X’ gosta de fazer? Em que ‘X’ é bom? Quais são suas necessidades? É importante  debateras idéias que aflorarem. Lista pronta, o facilitador argüi o que é preciso para fazer com que esses sonhos aconteçam? O que ‘X’ precisa? E a professora? E a família? Aqui surgem as descrições das tarefas que podem ser realizadas com a criança focalizada no MAP.
         Pergunta 8:  Plano de Ação“De que esta pessoa necessita? De onde saem os horários, as atividades, a estratégia, o plano em si.  Conclusão do MAP: o anotador orienta o grupo com o resumo dos cartazes que dá de presente para a família, juntamente com outros presentes,como bolo, uma folhagem, algo que cresça, algo doce,  como  os merengues que a educadora Esther Grossi distribuía aos participantes de seus cursos e depois aos seus colegas deputados, lembram?


          Antes do encerramento o facilitador pede aos participantes uma palavra ou expressão para resumir a experiência. “Diga a 1ª palavra que lhe vem a sua mente”.
        
         Não é numa sessão de MAP que aparecerão soluções milagrosas de inserção de uma pessoa na vida da comunidade.

         Pode-se e deve-se realizar quantas sessões forem necessárias. Os  MAPs foram planejados para libertarem pessoas dos cuidados institucionais. Os MAPs não são debates, são debates e ação.

         Eles estabelecem um direcionamento, favorecem a Inclusão em todos os aspectos da vida. São contínuos, um processo para a vida toda, para evitar o pesadelo da segregação.

         O MAP abre caminhos para o início de relacionamentos que conduzam a um bem-estar físico, mental e espiritual, faz seguramente, muito mais do que uma só pessoa pode fazer sozinha.

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