sábado, 12 de fevereiro de 2011

ADEUS TIA MARIA , VAI COM DEUS, UM DIA NOS REENCONTRAREMOS, POR CERTO!

                                                                    Por Gladis Maia

Esta postagem é minha última homenagem  à tia Mariazinha - Maria Chiden -  que partiu na semana passada, deixando –me  muita, muita  saudade e vários ensinamentos. Trata-se de uma carta  aos meus primos, seus filhos, que foi escrita  com muitas lágrimas e um grande aperto no coração, mas com um enorme consolo de que assim como a sua morte ocorreu enquanto ela  dormia, sem hospitalização,  coma e outros percalços , o que considero  uma bênção alcançada e merecida, sei que ela já está em muito boa companhia e num bom lugar, por que só os tolos pensam que com a matéria tudo acaba. Somos muito mais do que alguns litros de água, ossos e  vísceras! Ah somos... Pensar que só existimos neste minúsculo planetinha, quando há um universo infinito ao nosso dispor só pode ser ignorância. PAZ & LUZ MINHA TIA! NAMASTÊ!

                                         
Uady e Verônica,
Meus queridos... Meus mais profundos sentimentos de pesar pela inestimável perda da mãe de vocês.  Sei da dor pela qual estão passando, ela vai longe,  muito longe, infelizmente...  Estes últimos três anos me deram esta noção com a triste partida do pai e depois da  mãe.

Esta dor enorme só começa a amenizar quando passa a ser saudade, quando um turbilhão de lembranças e mais lembranças, que nem sabíamos que possuíamos, eclode e nos fazem ainda assim chorar, rir, conversar insistentemente a respeito da pessoa e da perda, com os amigos,  ou mesmo sozinhos...

Tudo que olhamos nos remete a pessoa amada que não está mais aqui conosco, fisicamente... E eis que a transformação começa a se operar, paulatinamente.  Só então começamos a perceber o quanto ela nos habita. O quanto somos parecidos com ela, no caminhar, no olhar, na crítica, nos maneirismos, nas opiniões, na forma  de encarar a vida, no caráter, na personalidade. É então o periodo  do luto, que dói muito, muito mesmo , mas  que  precisa necessariamente ser vivenciado em todo o seu esplendor, para que não fiquem sequelas a nos tornar  pessoas ainda pior do que já somos.


Querida tia, que me ensinou - sempre com o seu português corretíssimo, seus belos modos, sua elegância (mesmo ao usar uma enxada,  para ajudar o tio no sítio, quem diria que ela usaria um dia um instrumento destes? ... ) sua delicadeza,  sua beleza  e bondade ímpar- ainda nos meus 7anos,  como “era feio uma moça andar com a saia de baixo aparecendo... “  Como era ‘feio’ ter uma escova  cheia de fios de cabelos, “devemos tirá-los, assim que nos pentearmos...” Acho que muito da boa professora que fui nas minhas salas de aula, sem falsa modéstia, devo a ela, talvez  mais do que aos bancos escolares pelos quais passei...

Querida tia Mariazinha que me ensinou,   ao longo dos anos,  juntamente com a minha dedicação ao esoterismo, através da leitura e das várias práticas  orientais,  pois que  talvez esta seja a arte mais difícil de dominarmos na passagem por este  planetinha  -  porém a mais gratificante, compensadora, emocionante e envolvente,  por  nos devolver  ao nosso ser original, puro, amoroso e sem mágoa: a arte de  perdoar os outros!. “Perdoa o teu pai, ele é uma pessoa boa... ele só faz estas coisas porque é muito nervoso...” Estas palavras ditas muitas vezes me calaram fundo.

Ah,  tia Maria, obrigado, obrigado, obrigado... Perdoar o outro é perdoarmos a nós mesmos, é  nos darmos o presente mais valioso que alguém possa nos dar, estejam certos... Como foi bom eu tê-lo entendido, eu tê-lo amado por inteiro, há coisa de uns, 10,   12 a  15 anos antes dele ir embora .. . Meu grande amigo, o maior que eu já tive, que deixou muita saudade nos seus conterraneos, especialmente nos ex-vizinhos,  que falam ainda muito nele,  e deixou um buraco enorme no coração de todos os seus cinco  filhos,  que ainda o pranteiam ao longo destes  três anos de sua ausência...

Ah , meus primos... Se vocês vissem como era  lindo a tia e a mãe, de braços dados com suas bengalinhas, bem arrumadas, passeando pela praça ou pelas ruas desta cidade,  de salto alto, batom nos lábios  e do alto de suas oito décadas de existência...  Se vocês vissem como era contagiante  a relação delas na maturidade  –  eu chegava de mansinho para não acabar com  outro espetáculo:  as duas entoando juntas velhas canções de quando eram meninas ou moças,  as duas recordando  as ‘maldades’ da minha mãe com ela, pois que esta fazia as coisas ‘ erradas’ , quando eram meninas, e punha a culpa na tia, tanto pra Dinda (que acreditava) como  pra Vó Alzira ( que nem tanto)  ...  Se vocês vissem como era emocionante as duas rirem muito, ao cabo da mágoa passada, e gerada  pelos tardios divórcios de  ambas ,  pedidos pelos seus maridos -  de serem ‘mães solteiras’, alcunha dada  pela  tia ... às vezes atribuida também a mim e a Karina,  como ‘as solteironas do quarteirão’ ...

A tia Maria foi uma das pessoas mais justas que conheci, nesta nem tão curta jornada minha! O perfume do leite de rosas vai sempre me levar ao seu lindo sorriso, as sua s poucas risadas estrondosas, mas sempre  francas! As suas panquecas, ao avistar alguma, serão  lembradas com carinho...  ainda tenho o sabor na boca das últimas que ela  fez , a pedido da Karina... 
Lembrarei com ternura da  sua bem dosada  e sábia ironia! Ah,  minha tia, minha irmã de signo, não foi por acaso que nascemos ambas no dia 31 de outubro, assim como a outra sua irmã, tia Leopoldina... Minha mãe, como ela se intitulava ao me defender de uma agressão, crítica  ou grosseria qualquer de minha mãe ...  Os cremezinhos nos pés, nas mãos, no rosto,  que  todo mês comprávamos  no dia do pagamento, também ...  De tudo sempre fica um perfume, já dizia o poeta ...  Sempre vou me lembrar das nossas preces, das nossas leituras em comum, das nossas meditações e das conversas em torno disto, pois que já são  parte integrante de mim.

Antes de ir de volta para Porto Alegre, depois da estada em Triunfo junto à  nós,  agora já no final, a tia me deu estas fotos, estão com a Beti, para quem passei, depois de  escaneá-las,  se quiserem é só pedir.. . Os textos ela pediu que eu digitasse. Acho que tem dois que publicamos num jornal daqui, no ‘O Farrapo’, os jornais devem estar nas coisinhas dela, talvez a Yasmim, que estuda agora Jornalismo,   queira, pois um  deles fala nela ainda menina.

A Liginha manda os seus sentimentos a vocês! A Karina , o Egidio, a Francisca e a Duda também! Meu forte, forte abraço extensivo ao tio Siro, e aos filhotes de vocês,  Lucas e a Yasmim! Não esqueçam de rezar, de qualquer maneira, da forma que a vida os ensinou, não precisa ser a ensinada em qualquer  igreja! Se cuidem! Que a dor os ensine a ser cada dia mais justos, ternos e amorosos. Namastê!

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu bati essa última foto.
    Apesar da dor que todos ainda sentimos, é preciso destacar que a visaõ da morte é uma extrema hipocrisia do homem. A única certeza que temos em nossas vidas não é nada bem administrada por nós, seres humanos, pois nunca estamos preparados quando ela chega. Por que assim?
    Mas ela se foi e só posso dizer que sinto a vontade de ter feito muita coisa diferente. Tanto entre nossa relação, quanto a vida dela, é claro, se eu possuíse um poder específico para isso.
    Fico com raiva por não ve-la em meus sonhos e senti-la tão longe de mim. Jamais quis isso. O que posso fazer agora é ser amiga do tempo, detestável tempo.
    Obrigado por esse post lindo Gladis, que Deus continue botando sábias palavras na sua mente, todos os dias de sua vida.
    Quero os textos da vó sim, como posso pegá-los?
    Um grande beijo.

    Yasmin Chiden.

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