quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

COMO EM PLENO SÉCULO XXI DEIXAR DE DAR VISIBILIDADE ÀS DIFERENÇAS NA ESCOLA ?

                                                        Por Gladis Maia



    “ Um dia,  escola será só escola. Nem especial, nem  integradora ou inclusiva. Sociedade? Sociedade. E ponto.” Cláudia Werneck, in Sociedade Inclusiva: quem cabe no seu todos?

            Há uma década atrás  durante  a Assembléia Geral das Nações Unidas a ONU documentou, através da Resolução 45/91, de 1990,  o ideal de uma sociedade inclusiva, que deveria ser implementada  no mundo todo até o ano de 2010. Estamos em 2011 e nos parece que esta dívida milenar com os excluídos  de todas as categorias ainda não começou a ser paga, ficou apenas no papel. Pelo menos no que tange às Escolas, onde a minha experiência é maior e possuo mais informações.

         Embora pouco noticiado pelos meios de comunicação social oficiais, para diminuir a dívida da diferença entre o que a sociedade oferece e o que deveria oferecer aos seus cidadãos em termos de Saúde, de Trabalho, Educação, Comunicação, Cultura, etc, felizmente vem crescendo enormemente no mundo todo  além das ONGs, as OCIPES, os grupos de protagonismo, especialmente o juvenil, que se dispõem a  trabalhar voluntariamente por causas sociais,  as mais variadas.



         Há luz no fim do túnel, apesar da escuridão gerada pela violência que também cresce formidavelmente.  Aliás, nem sei se cresce tanto ou se é a insistência com que este tema é veiculado na mídia, que nos transmite esta impressão... Percebo que as matérias que tratam deste tema são transmitidas  com muitos holofotes e lentes de aumento – objetivando talvez,  além de ibope (porque o ser humano em geral adora uma tragediazinha, desde que não seja na família dele),   nos atemorizar e vender grades, cadeados, armas e congêneres... Na verdade não o soubemos com certeza, trata-se apenas da observação e de alguns estudos de intelectuais preocupados com este assunto e outros semelhantes.

         Mas sabemos que se as grandes organizações da comunicação social brasileira fossem mais sérias, mais responsáveis e seguissem o exemplo de centenas de rádios comunitárias, pasquins e revistas alternativos,  blogs e sites da web 2, como vem sendo chamados, espalhados pela internet, seriam elas  também arauto de um Novo Tempo, abre-alas, porta-bandeiras dos Direitos Humanos, dos Direitos Culturais, dos Direitos Educacionais... Se  constituiriam na comissão de frente da Vida Humana, com todas as alas desfilando com alegria e ginga,  repletas de  esplendor, pois quem não tem o seu brilho próprio,  mesmo que  muitas vezes  ofuscado pela indiferença ou pelo desprezo dos seus semelhantes?!

         A construção de um mundo inclusivo não deve ser luta restrita  dos excluídos e das famílias de pessoas com deficiência. A diversidade humana no seu todo e,  mais especificamente a deficiência, podem,  e devem,  se constituir em uma estratégia catalisadora da Justiça Social e do fomento das redes de pessoas, de profissionais, de conselhos, de entidades governamentais e não-governamentais, de instituições em geral, em prol de um mundo melhor, onde reine a harmonia, a paz, o amor,  o respeito às diferenças, a ética, enfim o bem-estar geral de todos.


         A escola brasileira precisa deixar de refletir, de  reproduzir a nossa sociedade excludente, visualizada pelos escandalosos  índices de reprovação e de evasão escolar...

         A escola brasileira precisa tornar-se um bem público na acepção plena do termo, ou seja, servir a todos que a procuram, sem distinção, priorizando parcerias éticas entre crianças e adolescentes em geral, reproduzindo a humanidade como ela é, em toda a sua extensão. A escola inclusiva é a saída para a crise  do Sistema de Ensino Brasileiro, de índole  segregacionista e competitivo.

          Precisamos, enquanto educadores,  nos conscientizar de que talvez a raiz desta incompetência para resolver os problemas da educação brasileira de educar para a vida, para a cidadania,  esteja localizada na farsa dos contextos educacionais, à semelhança de seus conteúdos desenvolvidos e valores cultivados, tanto na escola regular, como na especial.

          A vida não é assim: só doentinhos  e com problemas de aprendizagem  nas APAES e classes especiais,  pobres e pouco inteligentes nas escolas públicas, ricos e inteligentes nas escolas particulares... A vida  é  tudo isto junto e muito mais, é polifônica e multifacetada!



         Nós os professores, a olhar para esta sociedade preconceituosa, excludente, temos um quinhão de culpa -  nada pequeno, inclusive - pois ajudamos a formar estes cidadãos de quinta categoria que aí estão, tais quais os políticos inescrupulosos que ao invés do bem público, pensam no seu próprio bem, como se os votos que receberam da população lhe outorgassem o direito de se locupletar com o dinheiro arrecadado do suor dos trabalhadores, pois estes são os que menos sonegam impostos, que se não vem descontados de  sua folha de pagamento, porque o salário é minguado, estão em cada produto que consomem.

         Formar cidadãos,  enquanto estudantes, não implica necessariamente  trabalhar, ensinar - e praticar-     ética,  solidariedade,  flexibilidade, intuição, sensibilidade, criatividade, entre outros valores, aliados à técnica e ao conhecimento acadêmico? Se não é na Escola que devemos aprender a ser cidadão, aonde é então?


         As  dificuldades e limitações de cada aluno (reais e temporárias - ou não) não funcionariam como estímulo para o enfrentamento dos desafios da vida comunitária que transcendem o conteúdo e os demais ensinamentos que as salas de  aula mal tem conseguido proporcionar aos alunos?

          É difícil? É, muito! Até porque enquanto educadores temos que nos desnudar dos nossos preconceitos, dos nossos medos e receios de falhar, de não agüentar tanta dor tão perto de nós. Mas lembrem-se que ninguém descansa de seus talentos , muito menos de suas deficiências – e as temos às vezes em número bem significativo -  portanto,  a sociedade em geral, e  você que me lê especialmente , não tem direito ao descanso. À luta por um mundo inclusivo!Namastê!

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