sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Como uma foto no Facebook marcou a união de dois irmãos após a morte da mãe

Fonte:http://noticias.uol.com.br/

  • Reprodução/ Facebook
    A imagem do menino segurando o irmãozinho recém-nascido no colo foi publicada na rede social
    A imagem do menino segurando o irmãozinho recém-nascido no colo foi publicada na rede social
A atitude quase instintiva de uma enfermeira diante de uma situação de extrema tristeza produziu uma foto muito compartilhada no Facebook nos últimos dias. A imagem de um menino segurando o irmãozinho recém-nascido no colo, praticando o método canguru, após a morte da mãe comoveu os internautas. A cena foi obra da enfermeira obstetra Elaine Almeida, da Santa Casa de Misericórdia de Mogi Guaçu, no interior de São Paulo.
"Quando soube da morte da mãe, dois dias após o parto, pensei na dor daquele menino. A ideia era amenizar o transtorno emocional do momento. O menino foi filho único por 12 anos, sem ter de disputar a mãe com ninguém. A chegada, de repente, de um irmão já seria difícil por ela só", disse Elaine.
Naquele momento, com a morte da mãe, Elaine refletiu que o menino, mesmo que inconscientemente, poderia ver o irmãozinho bebê como uma ameaça. Ele poderia, inclusive, culpá-lo. "Por isso, na hora, pensei no método canguru. Com o contato pele a pele, a minha ideia era de que a dor diminuísse", disse.
De fato, um vínculo muito forte se estabeleceu ali entre João Victor da Rosa, de 12 anos, e seu irmãozinho Pedro Henrique Pereira, hoje com dois meses. A imagem foi registrada pelo médico pediatra Denis Carvalho em 19 de julho deste ano. Mas só ganhou repercussão após ter sido compartilhada por uma auxiliar de enfermagem há algumas semanas.
"Eu estava de plantão naquele dia e vi a cena. O menino estava muito emocionado ainda com a perda da mãe. Eu pensei, diante desse mundo cão, essa cena ameniza. Postei no Facebook para ver se as pessoas começam a se sensibilizar com os seres humanos", disse Carvalho.
Quase três meses após a morte de Elisângela Aparecida Rosa, de 28 anos, vítima de hipertensão, seus dois filhos apresentam uma intensa ligação. A família é bastante humilde. As duas crianças vivem com o pai, João Batista Pereira, de 28 anos, em uma casa simples, a beira da rodovia SP-340, no bairro do Itaqui, afastado da região central de Mogi Guaçu.
Pereira, que era tratorista, precisou se demitir para cuidar dos filhos. No entanto, encontrou, em João Victor, o melhor companheiro que poderia pedir. O menino prepara mamadeira, nina o irmão, esquenta a água para o banho e o que mais for preciso.
"Esses dois têm um amor que não tem explicação. É algo até raro de se ver. O João é um filho completo, estudioso e humilde", disse Pereira. "Agora, o que a gente tem para fazer é buscar ser feliz. Nós três".
Desde que a foto ganhou o mundo, a vida da família mudou. Foram convidados por diversos programas de TV e conseguiram muitas doações, como fraldas, roupas e até uma máquina de estampar camisetas. No entanto, no fundo, o que Pereira deseja é tocar a vida.

"Sempre gostei da lavoura. Quando eu puder, vou voltar a trabalhar no campo mesmo", disse.

"Esses dois têm um amor que não tem explicação. É algo até raro de se ver", diz o pai, João Batista Pereira.Thiago Varella/ UOL


O método canguru foi criado na Colômbia por causa da escassez de encubadoras no país. Como manter a temperatura do prematuro é fundamental, o método foi desenvolvido para que o contato pele a pele com a mãe -- ou qualquer outra pessoa com vínculo -- mantenha a temperatura do corpo do recém-nascido.
Elaine conta que, no Brasil, o método é bastante empregado. Na Santa Casa de Mogi Guaçu, o 'canguru' faz parte do programa de parto humanizado desde dezembro de 1998.
"O método canguru só traz benefícios, como a manutenção da temperatura, o aumento do ganho de peso, diminui o risco de infecção, aumenta a produção de leite e estabelece vínculo afetivo", disse.
Além das mães, no caso de cesáreas, os pais também participam do método canguru.
"Existem estudos que dizem que esse contato pele a pele é responsável pelas formas de amor que a pessoas vão estabelecer pela vida. Michel Odent, um obstetra francês, defensor do parto natural, disse isso. O contato estabelecido pelo método canguru pode estar ligado a várias relações da vida, como uma inteligência emocional maior, maior facilidade para resolver os problemas da vida e um índice menor de violência e de uso de drogas", afirmou Elaine, que é mestre em saúde da criança e do adolescente pela Unicamp e trabalha há 28 anos na Santa Casa de Mogi Guaçu.

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