segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PASSAMOS PELA ESCOLA E PELA VIDA DEBAIXO DE COERÇÃO E DISCIPLINAS, E A ISSO CHAMAMOS EDUCAÇÃO, E VIVER .


A nova era do computador veio demonstrar que a mente humana não deve constituir-se num banco de dados; deve ser livre, independente, para saber consultar e manipular  bancos de dados com maestria.O processo educativo desenvolvido na maioria de nossas escolas  não cabe mais na era do compartilhamento da informação. Mais do que nunca ficou provado que informação sozinha não é conhecimento, e que o conhecimento não deve ser a única razão da educação. 
Abaixo seguem várias ideias  de Krishnamurti sobre  a práxis educativa a ser desenvolvida nas escolas, nos lares, na sociedade, na vida em si, para que o homem possa chegar,  se não à plenitude,  ao menos passar por perto deste estágio que sinaliza a nossa razão de existir.   Gladis Maia                                                                                                


Aprender não é acumular conhecimentos. Qualquer cérebro eletrônico é capaz de acumular conhecimentos. O conhecimento, por conseguinte, não é de grande relevância; tem certa utilidade, mas não aquela desmedida importância que os entes humanos lhe atribuem. O ato de aprender requer uma mente muito ágil,  requer liberdade,  grande curiosidade e, também, intensidade, paixão e espontaneidade.
Existe diferença entre o aprender e o adquirir conhecimentos, pois cessa o aprender quando só há acúmulo de conhecimentos. O aprender independe de qualquer aquisição. Ao se dar demasiada importância ao conhecimento, deixa de haver o aprender. Quanto maior o número de informações acumuladas, mais segura, mais certa se torna a mente, cessando, portanto, o aprender.


O objetivo da educação não é o de produzir simples letrados, técnicos e caçadores de empregos, mas homens e mulheres integrados, livres de todo temor; porque só entre tais seres humanos pode haver paz perene. O objetivo da educação é criar homens e mulheres   integrados e, por conseguinte, inteligentes. Educação não significa, apenas, adquirir conhecimentos, nem coligir e correlacionar fatos; é compreender o significado da vida como um todo. A educação não é um simples exercício da mente. O exercício leva à eficiência, mas não produz a integração. A mente que foi apenas exercitada é o prolongamento do passado, nunca pode descobrir o que é novo. Eis por que, para averiguarmos o que é educação correta, cumpre-nos investigar o total significado do viver


Podemos conseguir diplomas e ser mecanicamente eficientes, sem ser inteligentes. A inteligência não é mera cultura intelectual; não provém dos livros, nem consiste em jeitosas reações defensivas e asserções arrogantes. O homem que não estudou pode ser mais inteligente do que o erudito. Fizemos de exames e diplomas critério de inteligência, e desenvolvemos mentes muito sagazes, que evitam os problemas humanos vitais. Inteligência é a capacidade de perceber o essencial, o que é; despertar essa capacidade, em si próprio e nos outros: eis em que consiste a educação. A educação deve ajudar-nos a descobrir valores perenes, para que não nos apeguemos a fórmulas ou à repetição de slogans; deve ajudar-nos a derrubar as barreiras nacionais e sociais, em lugar de as reforçar, porquanto essas barreiras geram antagonismo entre homem e homem. 


Infelizmente, o nosso atual sistema de educação nos torna servis, mecânicos e fundamentalmente incapazes de pensar; embora desperte nosso intelecto, deixa-nos interiormente incompletos. Sem uma integral compreensão da vida, os nossos problemas individuais e coletivos só tenderão a crescer, em profundidade e extensão. O que atualmente chamamos educação é um processo que consiste em acumular informações e conhecimentos, tirados dos livros, o que qualquer pessoa que saiba ler pode conseguir. Uma educação dessa espécie oferece-nos uma forma sutil de fuga de nós mesmos e  cria, inevitavelmente, sofrimentos cada vez maiores. 



A educação moderna, desenvolvendo o intelecto, fornece teorias e mais teorias, fatos e mais fatos, mas não nos faz compreender o processo total da existência humana. Somos altamente intelectuais; desenvolvemos mentes astutas e vivemos num emaranhado de explicações. O saber técnico, embora necessário, de modo algum resolverá as nossas premências interiores e conflitos psicológicos; e porque adquirimos saber técnico sem a compreensão do processo total da vida, a técnica se tornou meio de destruição. O homem que dividir o átomo mas não tiver amor no coração, transforma-se em monstro. Sem a compreensão de nós mesmos, a mera operosidade conduz à frustração, com suas inevitáveis fugas através de atividades maléficas de todo gênero. O progresso técnico resolve certos problemas para certas pessoas, num dado nível, mas ao mesmo tempo gera problemas mais vastos e profundos.


 Técnica sem compreensão leva à inimizade e à crueldade, o que costumamos disfarçar com frases bem-soantes. De que serve encarecermos a importância da técnica e nos tornarmos entidades eficientes, se o resultado é a mútua destruição? Quando se atribui à função toda a importância, a vida resulta em estúpida e monótona, rotina mecânica e estéril. O acúmulo de fatos e o desenvolvimento de capacidades, a que chamamos educação, privou-nos da plenitude da vida de integração e ação. A educação correta, não descurando do cultivo da técnica, deve realizar algo de importância muito maior, que consiste em levar o homem a experimentar o processo integral da vida.

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