quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NÃO CONFUNDA INTELECTO E INTELIGÊNCIA: O INTELECTO SE SATISFAZ COM TEORIAS E EXPLICAÇÕES, A INTELIGÊNCIA NÃO.


Este texto dá continuidade a expressão do pensamento de Krishnamurti sobre os caminhos pelos quais a educação, já de longa data,  vem tornando nossas vidas  cada vez mais superficiais, desarmônicas e vazias, pois não tem nos ajudado a compreender as camadas mais profundas do nosso ser. Com nossos desejos gananciosos e nossa busca incessante de saber, estamos perdendo o amor, embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade e outras mazelas... Estamos nos tornando cada vez mais especializados e cada vez menos integrados, porque agimos muito mais com o intelecto do que com a inteligência.  Gladis Maia



Segundo Krishnamurti  o Intelecto é o pensamento funcionando independente da emoção (sentimento) e a inteligência é a capacidade de sentir e raciocinar. Para ele a inteligência não está separada do amor. Da mesma forma, salienta que a erudição é necessária, que a Ciência tem o seu lugar próprio, mas se a mente e o coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma explicação, a vida se torna vazia e sem sentido. 


Se  a educação é tão desvirtuada que só nos dá condição de nos tornarmos engenheiro, escrevente, isto ou aquilo e  não somos educados para entender a beleza e a totalidade da vida, isso não é educação, é  apenas uma pequena parte da educação, pois para assim chamar-se o processo envolve o cultivo do ser humano total, seu desabrochar e o florescer da mente humana, não mutilada pela especialização, que apenas fornece uma grande quantidade de conhecimento, de forma que possamos apenas agir com ou sem destreza no mundo. 



A maioria das pessoas, parece reconhecer que o atual sistema de educação falhou, uma vez que produziu guerras, decomposição moral, etc.; e também, com exceção de muito poucas pessoas, deixou de existir o pensar criador. Quando a mente, o coração e o corpo estão, os três, em completa harmonia, então o desabrochar acontece naturalmente, de maneira fácil e em plenitude. É este o nosso trabalho como educadores, é esta a nossa responsabilidade, e a profissão de educar assume então na vida toda a sua grandeza. Não se trata apenas de o que pensar, mas de como pensar lucidamente.



O autor enfatiza que não há aprender quando a mente espera ser ensinada e trata tão só de acumular conhecimento na forma de memória. No processo de ser ensinado há instrutor e discípulo, o que sabe e o que não sabe, mas o recomendável seria tratarmos de compreender  a falsidade dessa distinção; para aprender, necessitamos de muita humildade. Quem diz “eu sei”, realmente não sabe. O que sabe é coisa passada, morta. Apega-se à autoridade, evidentemente, porque teme a incerteza, a insegurança; teme o desconhecido, o  amanhã.



Krischnamurti diz  que só nesse estado de humildade completa - que é o estado da mente que está sempre pronta a reconhecer que não sabe - há possibilidade de aprender. Nós estamos aprendendo; por conseguinte, não pode haver julgamento e não pode haver avaliação. Quando se está aprendendo, a mente está sempre atenta e nunca acumulando;  não há acumulação em que nos basearmos para julgar, avaliar, condenar e comparar, porque  a mente que está aprendendo está sempre nova; é sempre uma mente indagadora,  nunca disposta a aceitar a autoridade e avaliar segundo essa autoridade. É uma mente jovem; e é inocente, nova, porque está sempre aprendendo. 


 Assim, “aprender” tem dois significados: aprender para adquirir conhecimentos, a fim de que eu possa funcionar com o máximo de eficiência em certos campos; ou aprender acerca de mim mesmo, de modo que o passado - o pensamento - não possa em nenhum momento interferir. Dessa maneira, posso observar, e minha mente é sempre sensível. Não apenas a mente, mas também o corpo, têm de estar altamente sensíveis. Aprende-se algo de memória, de modo que isso se armazena como conhecimento no cérebro; quando se vai à faculdade ou à universidade, acumula-se uma grande quantidade de informação em forma de conhecimentos e, de acordo com esses conhecimentos, atua-se . 



A outra forma de aprender - à qual estamos muito pouco acostumados, por sermos tão escravos dos hábitos, da tradição e de toda classe de conformidade - é observar sem a companhia do conhecimento prévio, olhar algo como se fora novo e o olhássemos pela primeira vez. Nesta arte de aprender - na qual se acumulam os conhecimentos registrando somente as coisas que são indispensáveis a uma ação eficiente - não se registra nenhuma reação psicológica; o cérebro emprega os conhecimentos onde a função e a destreza são necessárias e, não obstante, o cérebro está livre para não registrar na área psicológica.  O aprender encontra-se fora do tempo. Para aprender, requer-se o escutar, e quando se escuta há atenção. Estamos vendo, pois, que, para aprender, necessita-se de silêncio, atenção e observação. Esse processo, em seu todo, é o aprender - não é acumular - é ir aprendendo, aprender agindo, em vez de “ter aprendido” e agir. São dois processos completamente diversos. Nós estamos aprendendo quando estamos examinando,  observando - e isso não é o mesmo que ter aprendido e, depois, observar. Os dois movimentos são inteiramente diferentes. 


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