Do mesmo modo que as pessoas adoecem por
passarem privações, certos indivíduos adoecem quando alcançam o sucesso, tão
logo consigam algo pelo qual lutaram um
bom tempo. Freud no ensaio "Os arruinados pelo êxito", fala de pessoas que fracassam quando atingem
o que sempre almejaram na vida. O sujeito ao invés de celebrar a conquista, troca
a satisfação por angústia e
ansiedade, não se permite a felicidade: a
frustração interna ordena-lhe que se aferre à frustração externa.
Segundo o psicanalista tais pessoas
encontram mais satisfação na fantasia do que na realização do desejo. Enquanto desejam,
sonham, planejam, aspiram alguma realização, estão afastadas do conflito. Quando
a realidade se aproxima da realização do desejo porém, surge uma série de
fenômenos para apegar-se à sua fantasia. É uma forma de manter o desejo em
estado de insatisfação. Uma espécie de auto sabotagem que atua de um modo
cíclico, vicioso, nocivo: uma parte da pessoa quer sentir- se feliz, enquanto a
outra sente culpa por esse desejo.
Observe o exemplo da mulher que só arruma
namorado que a trai. Será que todos os homens traem, ou são todos os homens que
ela coloca na sua vida que a traem? Será que ela quer ter homens que a traiam? Claro que não, o sofrimento é insuportável, embora
ela continue a sua saga, ou tragédia grega, namorado após namorado, se auto
sabotando. Olhe bem e você vai ver que essa pessoa teve um pai que
cobrava e cobrava, que queria que ela fosse a mais competente do mundo. Tipo
a pessoa continua brigando com o pai que pode até já estar morto, e mesmo do além
túmulo ainda influencia, de verdade. Quem
influencia não é o pai fantasma, mas a figura internalizada do pai.
Pessoas assim geralmente repetem padrões da
infância mesmo que esses padrões estejam prejudicando a sua vida, infernizada
pela compulsão da repetição. Uma necessidade inconsciente de repetir um
comportamento destrutivo. Elas enterram
as situações traumáticas de suas vidas, mas que na realidade continuam como se fosse uma marca indelével.
Essa moça do
exemplo deve ter sido uma criança insegura,
que mesmo adulta agora continua
emocionalmente frágil, carregando dentro de si a menina assustada de outrora.
Ela não sabe explicar, não conhece o porquê disso, como as crianças que não
conseguem controlar suas vidas, ela se
sente ainda incapaz de controlar isso. Talvez ela tenha vivido uma infância inteira se
sentindo inadequada. Talvez tenham havido pessoas que fizeram-na se sentir sem direito de se expressar ou de
simplesmente fazer parte da vida. As terapias existem para, entre outras
coisas, corrigir esta programação repetitiva e improdutiva. Pensem isso.
Namastê!
Nenhum comentário:
Postar um comentário